Acordei assim, acordei a achar que nada ia correr bem,
Acho que acertei.
Saio da cama segura do que penso, e ainda pensativa dessa segurança.
Pego numa toalha á sorte, é para ficar molhada, portanto nem faz diferença,
Segue-se um banho quente, para ajudar a acordar, enquanto a cabeça não pára, e a cara de maldisposta não sai, com a certeza de que vou incomodar muita gente.
As pessoas não sabem, nem gostariam de saber (tenho a certeza disso também) o que me vai na cabeça quando as vejo, e não depende dos dias, factos são factos, e esses não mudam consoante o humor, garanto que se alguém entrasse no meu cérebro (ou o pouco dele?) e soubesse o que tenho cá dentro, ia certamente deixar de me falar. (isto deixa umas certas reticências sobre mim)
Mas isso não me incomoda, não, minimamente. Se eu não digo, é porque acho que não devem saber, e não devem mesmo. Porque até acho que no fundo, na mente pervertida dos outros, também estão segredos que dariam uma certa polémica, e nem nestes perco muito tempo a pensar, tenho mais onde queimar neurónios.
A roupa está escolhida, é á sorte, não ligo muito ao facto de estar aparentemente bem ou não, não me interessa se a camisola combina com as sapatilhas, ou as calças com o casaco, que importância tem? é só roupa, e a roupa não reflecte o que esta por dentro (se bem que depende um bocado das pessoas, alguns têm uma cabeça que se tivesse etiqueta seria imediatamente cortada por ser de tão baixo nível mas pronto).
Acho que já arranjei a mochila, que vai ligeiramente pesada, mas já estou habituada, é a cruz de todos os estudantes, e com as aulas que vou ter, o dia melhorar, não pode.
Hora da escola, o martírio diário e incurável, os professores, sempre os mesmos, só sabemos que não são copias das aulas anteriores porque lá mudam de roupa, é impressionante a forma repetitiva e realmente aborrecida como falam da mesma coisa, vezes e vezes, com esperança que os alunos captem a informação, e consigam coloca-la numa folha de papel com perguntas (a maioria) completamente inúteis para o nosso futuro.
A primeira já se passou, foi rápido, entre conversas alheias e a matéria da disciplina, o tempo lá se passa.
Noutras circunstâncias, com outro humor, sou capaz de ainda me divertir, é um clássico, imaginar coisas absolutamente ridículas com os professores, que ate ajuda a passar melhor o tempo, mas hoje não.
Chega o intervalo, e claro, as esperadas perguntas acerca do meu estado de espírito, lamentável, continuo a achar que (principalmente nestas alturas) as pessoas não iam querer saber o que me vai na alma/cabeça.
Naturalmente que não respondo, limito-me a lançar um sorriso claramente forçado, mas que as satisfaz nunca percebi porquê), e eu desejando já que o dia acabe e eu não tenha de ver mais ninguém.
As outras aulas passam-se ainda mais lentamente, e o facto de já nem conseguir olhar para as professoras faz com que a minha atenção se desvie lá para fora, o que me faz contemplar aquilo que habitualmente nem reparo, mas que neste momento é o que me resta.
Reparo na estranha forma como as pessoas agem entre si, questiono-me o que elas estão a pensar. Reparo nos estranhos sorrisos dos meninos mais novos, os sorrisos inocentes que lançam uns aos outros, e sabendo eu que ali já estão a aperceber-se que o sexo oposto não é tão desprezível como parece (o que de certa forma me deixa com um sorriso disfarçado na cara)
Não posso deixar de reparar também na maldade dos outros, os que se julgam grandes e “fixes” e que, coitados, não fazem ideia do quão ridículos são aos olhos das raparigas que tem algum (por pequeno que seja) fragmento de cérebro, esses que gostam de humilhar como forma de se sentir bem, esses que tem tão pouca auto-estima que precisam de ter a certeza de que os outros estão mal, para eles estarem bem.
Acéfalos, como o Pedro gosta de lhes chamar, e eu concordo, penso que se enquadra.
E pronto, acabou, mais uma vez (pela ultima do dia) percorro o corredor que leva ás escadas, que por sua vez leva á porta, que dá livre passagem para o portão, que eu tanto adoro em dias assim.
E entre mais uns sorrisos e desprezos, apresso o passo, pouco preocupada em que percebam que não quero aturar mais ninguém, e já com a imagem do meu cantinho em casa, saio daquele local a que chamam “escola”.
Quero so a minha casa, o meu quarto e o meu mau-humor, sem intervenientes.
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